Jerusalém tem sido palco de semanas de agitação e violência em nível não visto havia anos, em uma nova escalada de tensões entre palestinos e forças de segurança israelenses
Mulher palestina encara soldado israelense (Fonte: bbc.com)
Luan Fontes
03/06/21
bbc.com
Na noite de terça (11/5, no horário local), o grupo islâmico
Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse ter disparado mais de 130 foguetes
em direção à cidade israelense de Tel Aviv, em reação a um ataque aéreo
perpetrado por Israel que, segundo as autoridades locais, destruiu uma torre
residencial palestina. O edifício de 13 andares havia acabado de ser evacuado
quando foi atingido.
"Vamos cumprir nossa promessa de lançar um ataque
massivo de foguetes contra Tel Aviv e seus subúrbios, em resposta ao ataque
inimigo contra torres residenciais", diz comunicado do Hamas enviado à
agência Reuters.
Desde segunda-feira (10/5), os militantes já haviam
disparado mais de 400 foguetes contra Israel, matando dois israelenses. Na
noite desta terça, o jornal Haaretz afirmou que um terceiro israelense foi
morto pelos ataques palestinos.
Israel, por sua vez, afirmou ter atingido 150 alvos em Gaza.
Autoridades de saúde calculam que houve ao menos 28 palestinos mortos,
incluindo ao menos nove crianças.
Israel afirma que 15 integrantes do grupo palestino Hamas,
que controla a Faixa de Gaza, estão entre os mortos. O secretário de Estado dos
Estados Unidos, Antony Blinken, disse que o Hamas deve encerrar os ataques com
foguetes "imediatamente", acrescentando: "Todos os lados precisam
diminuir a escalada".
A porta-voz da Casa Branca Jen Psaki disse que o presidente
dos EUA, Joe Biden, está seriamente preocupado com a violência.
Mas o premiê Benjamin Netanyahu defendeu a ação "com
grande força" de Israel, afirmando que o grupo Hamas "atravessou uma
linha vermelha".
Os mais recentes confrontos em Jerusalém ocorreram na
segunda-feira em frente à mesquita de Al Aqsa, na cidade velha. Palestinos
atiraram pedras na polícia de choque israelense, que disparou balas de borracha
e gás lacrimogêneo.
O Crescente Vermelho Palestino (movimento humanitário
semelhante à Cruz Vermelha) disse na segunda-feira que mais de 300 palestinos
haviam sido feridos pela manhã.
A força policial israelense disse que 21 policiais ficaram
feridos, três dos quais necessitaram de tratamento hospitalar.
Esses são os piores confrontos desse tipo em Jerusalém desde
2017, alimentados em grande parte por uma tentativa de colonos judeus de
reivindicar a posse de casas de famílias palestinas em Jerusalém Oriental
anexada a Israel. Esse imbróglio sobre as casas vem se arrastando há anos na
justiça.
Confira abaixo três pontos importantes para entender a
crescente tensão em Jerusalém.
1. Dia de Jerusalém
Os confrontos entre palestinos e forças de segurança
israelenses ocorreram no fim de semana e pioraram na segunda-feira em torno da
mesquita de Al Aqsa. A mesquita está situada em uma esplanada conhecida pelos
muçulmanos como Haram al Sharif, ou Nobre Santuário, e pelos judeus, como Monte
do Templo.
A força policial de Israel disse que milhares de palestinos
montaram barricadas no local na noite de segunda-feira com pedras e coquetéis
molotov em antecipação a um confronto durante uma marcha judaica planejada para
para marcar o Dia de Jerusalém.
O primeiro-ministro Netanyahu defendeu o policiamento.
"Esta é uma batalha entre tolerância e intolerância,
entre a violência sem lei e a ordem", disse ele. "Os elementos que
querem expropriar nossos direitos nos obrigam periodicamente a permanecer
firmes, como os policiais israelenses estão fazendo."
Por sua vez, o presidente da Autoridade Nacional Palestina
(ANP), Mahmoud Abbas, condenou as ações israelenses.
"O ataque brutal das forças de ocupação israelenses aos
fiéis na mesquita sagrada de Al Aqsa e sua esplanada é um novo desafio para a
comunidade internacional", disse seu porta-voz, Nabil Abu Rudeineh.
Os conflitos começaram na véspera do Dia de Jerusalém,
quando acontece a chamada Marcha da Bandeira, em que israelenses comemoram a
captura da parte oriental de Jerusalém por Israel em 1967. Foi nessa ocasião,
durante a Guerra dos Seis Dias, que Israel assumiu o controle efetivo de toda a
cidade.
A Cidade Velha está localizada em Jerusalém Oriental, que
abriga alguns dos locais religiosos mais sagrados do mundo: a Cúpula da Rocha e
a própria mesquita de Al Aqsa dos muçulmanos, o Monte do Templo e o Muro das
Lamentações, da religião judaica, e o Santo Sepulcro da religião cristã.
É considerada a cidade mais sagrada para o Judaísmo e o
Cristianismo, e é a terceira cidade mais sagrada do Islã.
O destino de Jerusalém Oriental está no centro do conflito
israelense-palestino, e ambas as partes reivindicam seu direito sobre a cidade.
Israel considera a cidade inteira como sua capital, embora não seja reconhecida
como tal pela maioria da comunidade internacional. Os palestinos reivindicam
Jerusalém Oriental como a futura capital de um futuro Estado independente.
Normalmente, durante a Marcha das Bandeiras, centenas de
jovens israelenses agitam bandeiras e caminham por áreas muçulmanas, cantando
canções patrióticas.
Muitos palestinos veem isso como uma provocação. Anteriormente,
a polícia israelense decidiu proibir os judeus de visitar o complexo durante as
comemorações do Dia de Jerusalém.
2. Possível despejo de famílias palestinas
Criança palestina em meio à destruição (Fonte: bbc.com)
Grande parte da mais recente onda de violência aconteceu em
meio a um esforço legal de anos por grupos de colonos judeus, que querem despejar
várias famílias palestinas de suas casas no distrito de Sheikh Jarrah, em
Jerusalém Oriental.
Uma decisão de um tribunal inferior este ano apoiando a reivindicação dos colonos despertou a ira dos palestinos.
A Suprema Corte de Israel deveria realizar uma audiência
sobre o caso na segunda-feira, mas a sessão foi adiada devido aos distúrbios.
Bombardeios a Gaza (Fonte: bbc.com) |
Bombardeios noturnos a Gaza (Fonte: bbc.com) |
3. Tensões durante o Ramadã
Esta nova onda de violência ocorre nos últimos dias do mês
sagrado muçulmano do Ramadã. As tensões aumentaram desde o início das festividades,
em meados de abril, com uma série de eventos que geraram motins.
Quando o Ramadã começou, confrontos noturnos eclodiram entre
a polícia e palestinos que protestavam contra barreiras de segurança do lado de
fora do Portão de Damasco, na cidade velha de Jerusalém, que os impediam de se
reunir ali durante a noite.
Mas os confrontos não se limitaram apenas a Jerusalém.
Também foram registrados confrontos na cidade de Haifa, no norte de Israel, e
perto da cidade de Ramallah, na Cisjordânia.
Negociadores do Quarteto para o Oriente Médio — grupo
formado por Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU para negociar a crise
na região — expressaram profunda preocupação com a violência, instando todas as
partes a adotarem moderação.
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