Unidas
Podemos elege 10 deputados regionais, apenas três a mais que em 2019, apesar da
incorporação do líder nacional da formação como cabeça de chapa
Pablo Iglesias deixa o Parlamento (Fonte elpais.com)
Luan
Fontes
24/05/2021
Elpais.com
Pablo Iglesias está de saída. O candidato do
Unidas Podemos (UP) anunciou na noite de terça-feira que deixará todos os
cargos institucionais na política. O secretário-geral do partido esquerdista
espanhol, que ao entrar na batalha eleitoral da região de Madri colocava sobre
os ombros toda a responsabilidade do resultado, não conseguiu ser o diferencial
que esperava quando decidiu renunciar ao cargo de vice-presidente do Governo
(vice-primeiro-ministro). Depois de uma campanha tensa, marcada pelas ameaças
de morte contra ele, os dados do UP na região que inclui a capital –10
deputados e 7,21% dos votos – precipitaram uma saída que Iglesias vinha
preparando havia tempos.
“Deixo
todos os meus cargos. Deixo a política entendida como política de partido e
institucional”, afirmou o candidato em seu pronunciamento. “Continuarei
comprometido com meu país, mas não vou ser um empecilho para a renovação de
lideranças que precisa ocorrer na nossa força política”, manifestou, cercado da
cúpula do seu partido, incluindo as ministras Irene Montero e Ione Belarra.
Iglesias disse que se tornou um “bode expiatório” que mobiliza “os afetos mais
sombrios e contrários à democracia”, por isso decidiu dar um passo atrás,
consciente de que não conseguiu contribuir para que o projeto do Unidas Podemos
possa “consolidar seu peso institucional”.
“O sucesso
eleitoral impressionante da direita trumpista que [a candidata conservadora
Isabel Díaz] Ayuso representa é uma tragédia para a saúde, a educação e os
serviços públicos”, avaliou Iglesias. “Prevejo que estes resultados vão agravar
os problemas territoriais na Espanha. Nunca Madri tinha sido tão diferente”,
acrescentou o líder do UP, alertando que a “deslealdade institucional da
Comunidade de Madri em relação ao Governo da Espanha e outras instituições vai
se intensificar”.
“Fracassamos”,
apontou Iglesias para definir os resultados da esquerda na eleição de
terça-feira. “Estivemos muito longe de somar uma maioria suficiente para montar
um Governo decente”, acrescentou, embora tenha felicitado a candidata do
partido Mais Madri, Mónica García, que superou o PSOE (socialistas) em número
de votos.
Depois dos
retrocessos na Galícia e País Basco e de salvar a mobília na Catalunha ao obter
o mesmo resultado de quatro anos antes, em março, Iglesias decidiu deixar o
Executivo de coalizão com os objetivos de salvar seu partido em Madri, “conter
o fascismo” e evitar que a ultradireita venha a participar de um Governo na
Espanha pela primeira vez desde a restauração da democracia, em 1977. As
pesquisas anteriores ao anúncio da sua candidatura situavam o Unidas Podemos
abaixo da cláusula de barreira de 5% de votos para obter representação no
parlamento regional, e com ele na lista esse perigo desaparecia.
Pablo Iglesias em discurso no Parlamento (Fonte: elpais.com) |
A formação
melhorou ligeiramente os resultados obtidos na eleição de 2019 (sete deputados
e 5,6% dos votos), mas segue muito longe dos 27 deputados de 2015, e com uma
lista muito diferente. Há dois anos, a candidata à presidência era a até então
desconhecida Isabel Serra, que teve que assumir esse desafio após a deserção de
Íñigo Errejón para fundar o Mais Madri junto com a então prefeita da capital,
Manuela Carmena. Aquele movimento expôs a enésima luta interna da esquerda e
relegou o Podemos ao último posto na Assembleia regional. Agora, apesar de
enfrentar Iglesias como cabeça de chapa, o Mais Madri soma mais do que o dobro
de assentos do UP, e isso com uma aspirante até recentemente desconhecida para
a maioria, Mónica García, mas que soube crescer na campanha e fazer sombra ao
ex-vice-premiê, que há algumas semanas lhe ofereceu uma candidatura conjunta
que ela rechaçou.
Desde sua
renúncia no Congresso dos Deputados e no Conselho de ministros, que decidiu
estando consciente do desgaste que sua figura sofreu nos últimos anos, Iglesias
tinha aberto a porta a novas lideranças. Começou esse processo já dentro do
Governo de coalizão, ao alçar a ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, à terceira
vice-presidência do Governo e apontá-la como futura cabeça de chapa em eleições
gerais. Já a sucessão como secretário-geral do partido deveria esperar mais
dois anos, data do próximo congresso, e em todo caso caberia a uma mulher tomar
as rédeas da formação, conforme tinha manifestado o próprio candidato ao longo
da campanha. Com o anúncio da noite da terça-feira, os prazos voam pelos ares,
e a partir desta quarta se abre uma etapa para decidir o futuro da direção, uma
questão complexa depois que Iglesias construiu nestes anos um Podemos fechado
em torno de sua liderança. Até agora, era o único dos fundadores que resistiam
na cúpula da organização. Carolina Bescansa, Luis Alegre e Íñigo Errejón foram
afastados em diferentes etapas por discrepâncias com ele.
Pablo foi uma das principais figuras na esquerda espanhola (Fonte: elpais.com)
O passo
atrás do líder da formação constata também o fracasso na estratégia das últimas
semanas. O Unidas Podemos desenhou uma campanha para a “maioria trabalhadora”,
concentrada nas cidades e distritos mais castigados da Comunidade, com a meta
de elevar a participação nestas zonas tradicionalmente abstencionistas, mas o escrutínio
mostra que, apesar de ter conseguido, os feudos da direita se mobilizaram muito
mais. “Os dados são muito altos, mas não alcançamos o objetivo que buscávamos”,
reconheceu Iglesias. “Pelo contrário, consolidou-se a vitória da direita e a
presença institucional da ultradireita”, acrescentou.
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